sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Vou para os bosques

I went to the woods because I wanted to live deliberately,

I wanted to live deep and suck out all the marrow of life,

To put to rout all that was not life and not when I had come to die

Discover that I had not lived.


Henry David Thoreau

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Señorita Extraviada

Esta semana o jornal O Público falou de Cuidad Juarez, no México. Mas não focou o feminicídio que ocorre nesta cidade, que é o desaparecimento em massa - desde os anos 80 que se encontram corpos esventrados no deserto - e a tortura de jovens mulheres, entre os 13 e 25 anos, que são usadas para o que pior pode existir no ser humano. Em memória das jovencitas mexicanas: "Ni una muerta más!"

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Corazón porque no (me) amas...


En el borde de la vida y la muerte
nos vamos bailando la suerte
de este pobre corazón.

(...)
Subí a la sala del crímen, le pregunté al presidente
que si es delito quererte, que me sentencien a muerte
aa aay ¿corazón por qué no amas?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pratos ou partos?

PRATOS VOADORES

Violentamente te encontro
em mim, descendo
em ausência
num jardim de Outono

Violentamente deixo
as agressões espelharem

A caligrafia
do teu medo
e de todos os pratos
onde voam dores

Violentamente
sou violada
pela música
do teu corpo

batendo contra o meu

pelo tambor enlouquecido
-que rasga dilacera liberta -

Violentamente
em assonância
aliteração
discrepância
além coração

e uma lua alta é cúmplice
do nosso crime.


PARTO

Estou num pântano
onde as flores de lótus
não vão florir

(algum sangue terá de abrigar esta loucura
algumas luas terão de mostrar o essencial)

enquanto houver palavras que nos ardem
espancam
os bosques são precisos

As luas não vão dizer
o teu nome duas vezes
em surpresa certificada.

Virgínia Silva 
Festival do Ruído, Barcelos, 26/7/2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ah...Vadinho!



Há personagens que são imortais. Têm tamanha vida que entram nos nossos sonhos, questionam as nossas certezas com a sua presença imponente, dormem connosco e despertam para além de nós. Assim é Vadinho. Nas páginas de Amado ele é ainda mais apaixonante do que no cinema. Vadinho, símbolo das nossas paixões secretas, do humano em estado selvagem, da força do desejo, do sangue indomável acima de qualquer convenção social ou moral. Vadinho vadio, para vadiar, Vadinho malandro, maldito, imoral para todos, Vadinho, o amor de Flor. Um amor puro, de quem ama com todas as imperfeições, um amor desinteressado, pois traz mais dor do que prazer: Como viver sem ele, como atravessar esse deserto, transpor esse crepúsculo, erguer-se desse pântano? Deus e o Diabo acabam por se reconciliar nos braços de Dona Flor. Quem de nós consegue tal proeza?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A tigela de madeira

[...]Era uma vez, no antigo país das fábulas, uma família em que havia um pai, uma mãe, um avô que era o pai do pai e aquela já mencionada criança de oito anos, um rapazinho. Ora sucedia que o avô já tinha muita idade, por isso tremiam-lhe as mãos e deixava cair a comida da boca quando estavam à mesa, o que causava grande irritação ao filho e à nora, sempre a dizerem-lhe que tivesse cuidado com o que fazia, mas o pobre velho, por mais que quisesse, não conseguia conter as tremuras, pior ainda se lhe ralhavam, e o resultado era estar sempre a sujar a toalha ou a deixar cair comida ao chão, para já não falar do guardanapo que lhe atavam ao pescoço e que era preciso mudar-lhe três vezes ao dia, ao almoço, ao jantar e à ceia. Estavam as coisas neste pé e sem nenhuma expectativa de melhora quando o filho resolveu acabar com a desagradável situação. Apareceu em casa com uma tigela de madeira e disse ao pai, A partir de hoje passará a comer daqui, senta-se na soleira da porta porque é mais fácil de limpar e assim já a sua nora não terá de preocupar-se com tantas toalhas e tantos guardanapos sujos. E assim foi. Almoço, jantar e ceia, o velho sentado sozinho na soleira da porta, levando a comida à boca conforme lhe era possível, metade perdia-se no caminho uma parte da outra metade escorria-lhe pelo queixo abaixo, não era muito o que lhe descia finalmente pelo que o vulgo chama o canal da sopa. Ao neto parecia não lhe importar o feio tratamento que estavam a dar ao avô, olhava-o, depois olhava o pai e a mãe, e continuava a comer como se não tivesse nada que ver com o caso. Até que uma tarde, ao regressar do trabalho, o pai viu o filho trabalhar com uma navalha um pedaço de madeira e julgou que, como era normal e corrente nessas épocas remotas, estivesse a construir um brinquedo por suas próprias mãos. No dia seguinte, porém, deu-se conta de que não se tratava de um carrinho, pelo menos não se vía sítio onde se lhe pudessem encaixar umas rodas, e então perguntou, Que estás a fazer. O rapaz fingiu que não tinha ouvido e continuou a escavar na madeira com a ponta da navalha, isto passou-se no tempo em que os pais eram menos assustadiços e não corriam a tirar das mãos dos filhos um instrumento de tanta utilidade para a fabricação de brinquedos. Não ouviste, que estás a fazer com esse pau, tornou o pai a perguntar, e o filho, sem levantar a vista da operação, respondeu, Estou a fazer uma tigela para quando o pai for velho e lhe tremerem as mãos, para quando o mandarem comer na soleira da porta, como fizeram ao avô. Foram palavras santas. Caíram as escamas dos olhos do pai, viu a verdade e a sua luz, e no mesmo instante foi pedir perdão ao progenitor e quando chegou a hora da ceia por suas próprias mãos o ajudou a sentar-se na cadeira, por suas próprias mãos lhe levou a colher à boca, por suas próprias mãos lhe limpou suavemente o queixo, porque ainda o podia fazer e seu querido pai já não. Do que veio a passar-se depois não há sinal na história, mas de ciência mui certa sabemos que se é verdade que o trabalho do rapazinho ficou em meio, também é verdade que o pedaço de madeira continua a andar por ali. Ninguém o quis queimar ou deitar fora, quer fosse para que a lição do exemplo não viesse a cair no esquecimento, quer fosse para o caso de que a alguém ocorresse um dia a ideia de terminar a obra, eventualidade não de todo impossível de produzir-se se tivermos em conta a enorme capacidade de sobrevivência dos ditos lados escuros da natureza humana. Como já alguém disse tudo o que possa suceder, sucederá, é uma mera questão de tempo, e, se não chegámos a vê-lo enquanto por cá andávamos, terá sido porque tínhamos vivido o suficiente. [...]

José Saramago, in As Intermitências da Morte

domingo, 27 de junho de 2010

Guardar as lágrimas

Todos os dias e de todas as formas eu torno-me um bocadinho melhor.

in Lembras-te de Dolly Bell, de Kusturica

sábado, 19 de junho de 2010

O meu José

Deitaram-se. Blimunda era virgem. Que idade tens, perguntou Baltazar, e Blimunda respondeu, Dezanove anos, mas já então se tornara muito mais velha. Correu algum sangue sobre a esteira. Com as pontas dos dedos médio e indicador humedecidos nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de Baltazar, sobre o coração. Estavam ambos nus. Numa rua perto ouviram vozes de desafio, bater de espadas, correrias. Depois o silêncio. Não correu mais sangue.

in Memorial do Convento, de José Saramago

Este é um dos livros da minha vida e Saramago uns dos escritores que mais amo. Amado ou odiado, foi um provocador autêntico, fiel aos seus princípios e valores. A sua escrita tem luz que se impõe por entre a verdade mais nua e dolorosa. A compaixão está aí.
O nosso país nunca será profundamente conhecido através dos seus políticos polidos de gravata, dos seus jogadores de futebol suados com gel no cabelo ou dos seus monstros turísticos no sul. Em todas as livrarias que frequentei na Europa e fora dela, Saramago estava lá, ao lado de Fernando Pessoa. E essa descoberta fazia-me sempre sorrir e sentir-me pertencente a um lugar, que poderá não ser um pedaço de terra, um rectângulo virado para o oceano, mas é com certeza uma língua e um modo de sentir e ver o mundo.
Fica aqui a minha homenagem partilhada.

Até sempre camarada!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Venadito

Frida Kahlo entró en mi el día que entré en su casa en Coyoacàn. Desde entonces respiramos el mismo aire, sentimos el mismo dolor.

Violentada e triste

Violentada e triste. Recordada
na chuva.

Perfil de Primavera
nas mãos que eu ergo acima desta ausência.

O meu sangue desperta, cria raízes no teu sangue.
Nos jardins desertos da nossa solidão.

As minhas mãos, as tuas mãos. Os corpos abraçados.
E a única cidade construída para o nosso amor.

Nua. Inquieta.
Clandestina.

A tua boca no meu peito. Os
beijos demorados. E todos os silêncios.

As ruas que eu abri no teu olhar
começam nos meus dedos.

Vem. Eu amo-te.

Joaquim Pessoa

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Milagres

Na noite de mil estrelas uma vela percorre o mar procurando um corpo. E os olhos de todos a seguem ansiosamente. Ela anda devagar, vai de um lado para o outro, não pára. Arriaram as velas dos saveiros. A lua bate sobre eles, derrama a sua luz suave. As noites do cais, quando são belas assim, são destinadas ao amor. Nessas noites as mulheres que muito temeram pelos maridos muito amor recebem. Quantas noites iguais a estas ela - Lívia tem a cabeça baixa e se recorda - não passou ao lado de Guma, a cabeça dele descansando no seu colo, a luz do cachimbo que ele pitava se confundindo com as luzes das mil estrelas? Quando ele chegava numa noite de temporal, numa noite de muita angústia para ela, iam os dois para o saveiro e se amavam sob a chuva ao clarão dos raios. Era um desejo misturado com medo, com uma angústia inexprimível. Era aquela certeza que ela tinha de um dia o perder num temporal. Era aquela certeza que fazia arrebatado o seu amor. Ele se iria a afogar, ela tinha a certeza. Por isso o amava todas as vezes como se fosse a última. Noites de tempestade, noites feitas para a morte, para eles eram noites de amor. Noites em que os gemidos atravessavam o mar oceano, eram gritos de desafio. Se amavam na tempestade.

Guma foi-se com os tubarões para as terras de Aiocá. Como ele tantos pescadores na Bahía se vão ainda hoje. Guma salvou dois homens, o emigrante árabe e o filho do seu poderoso chefe, sendo ele levado pelo mar, seu doce amigo. Lívia ficou chorando as lágrimas invisíveis do mar morto, como muitas mulheres ainda hoje o fazem. Terá mais sorte que muitas e não se prostituirá, como muitas em Salvador ou outros locais do Brasil, ou do mundo pobre, sem milagres. A pobreza a isso obriga. Meninas de 13 anos - as preferidas pelos turistas - ou mulheres de 40 anos bem violentados na sua juventude - e essas não são queridas, pois as suas carnes já não são tenras e lisas, têm o gosto e o cheiro dos seus usurpadores. As suas juras de amor já não bastam, pois os seus corpos dizem a verdade do tempo.
Em todos os seus livros, Jorge Amado fala em milagres. Fala nos milagres que hão-de vir. O dia em que os meninos de rua deixarão de ser explorados e maltratados, o dia em que os pescadores deixarão de ser levados para Yemanjá no mar morto, o dia em que os feridos, os usurpados, os famintos elevarão as suas vozes nos cais, nos sertões deste mundo. E fala de personagens, que viveram também fora dos seus livros, fazendo justiça por suas próprias mãos, como o Zumbi, Lampião ou Rosa Palmeirão. Seres de coração em sangue, que derramaram o sangue de outros corações. Ele queria que encontrássemos nós os nossos deuses e fizéssemos nós os milagres com as nossas vozes unidas, o nossa humanidade cansada de ser injustiçada. É desses milagres que Jorge Amado falava... e é nessa intenção que me reencontro nas suas páginas. Talvez por isso reaja como uma criança cada vez que termino um livro seu: com um beijo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jorge Amado

Jorge Amado morreu quatro dias depois de eu ter chegado ao Brasil, em Agosto de 2001. Ouvi a notícia da morte dele ao lado do meu então muito amado. Na época nunca tinha lido nenhum romance dele, além do conto "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", mas comovi-me com a reportagem sobre a sua vida e o quanto foi amado e amou a sua família, os seus amigos e o seu povo.
Agora conheço as receitas afrodisíacas de Dona Flor, os corações violentados dos capitães da areia e a história dos homens de Yemanjá. Jorge Amado não ganhou o Nobel da Literatura. O seu coração e a sua escrita eram demasiado nobres para tal, talvez. Para mim ele é premiado a cada carícia, cada punhal disfarçados de palavra com que ora nos alisa, ora nos entristece, ora nos silencia por dentro.
O cavalo negro de olhos vazados que é arrastado para o mar como oferta à deusa, o ser traído do mulato Rufino afundando-se com o seu corpo na sua canoa, velados por tubarões, o salto para o outro mundo do Sem Pernas, tudo dores tão intensas e tão cheias de dengo a embala-las que só o universo daquele que amou muito e foi muito amado consegue transmitir. Obrigada Amado.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O tempo das borboletas

Quando os meus dedos
florirem nos teus

quando os meus olhos
amanhecerem para o teus

quando o meu sangue
se encontrar com o teu

quando

a nossa esplêndida nudez
ruborizar cada noite

então
sim

as borboletas terão dançado.

Virgínia Silva

quarta-feira, 5 de maio de 2010

About pacifism

Violence is the eruption of blocked life energies. Pacifism does not mean to gently appease violence, nor does it mean overcoming conflict through appeals for peace. True pacifism is the radical and intelligent commitment of the human being to the liberation of all life energies and creative forces that are present in him/her. Pacifism is the fundamental fight against every kind of suppression of the human longing. Pacifism means taking an uncompromising stand for all living beings. An uncompromising stand for achieving inner thruthfulness and freedom - for pacifism is the reconciliation of the human being with him/herself.

Dieter Duhm

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O arco-íris da infância

As crianças, no seu infinito "faz de conta" recusam o sonho partido ao meio a meia água os lugares sombrios da vida. São mais da água e não precisam de perpetuar o tempo em mausoléus ou pirâmides. Olham nos olhos a esfinge e aprendem o medo no voo do milhafre. Das palavras dos adultos retiram apenas as conchas separadas perdidas pela praia. Crescem pelos cantos e choram a mudança. gostam do sonho mesmo que este lhes rebente nas mãos.

De Ana Paula para Ondjaki

quinta-feira, 29 de abril de 2010

No dia da dança...

Os meus pés conhecem a verdade que o meu coração sente quando os meus ouvidos sorriem. A música é o milagre que os comunistas já autorizaram de acontecer, ahahah. A bailar, compañeros!

voz de EspumaDoMar in AvóDezanove e o Segredo do Soviético, Ondjaki

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Flores para ti

"Todos os adultos foram um dia crianças, embora poucos se lembrem disso."

A. Saint Exupéry

As minhas mais doces lembranças de infância estão ligadas a ti. Tu ensinaste-me a escovar os dentes, a escrever o meu nome, a achar-me linda, a estrelar um ovo... tu ninaste-me com a tua canção sempre igual, sempre terna, inventada só para mim. Contigo as viagens de comboio estão secretamente guardadas, ao lado das borboletas e dos campos sem fim. Por ti a sabedoria dos contos e as histórias aos quadradinhos povoaram cada momento dessa época mágica.
Passou a data triste em que tu me foste roubado de madrugada. Tal como há 19 anos, o dia amanheceu com sol, enquanto o meu coração em sangue se esvaía com o teu, na escuridão.
Felizmente, o tempo e os anjos na minha vida trouxeram-me de volta a minha criança, aquela que tu ajudaste a ser. Graças ao teu colo sempre em ninho e ao teu imenso silêncio sorridente - mais forte e reparador do que as mais belas palavras - estou aqui. Flores para ti, pai.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Exercício para adormecer

Sinto vontade de ver o meu pescoço
cresCER
crescer e aLONGAr-se em posições elegantes.
Sinto o meu cheiro de fêmea
adocicado
e quero que ele se espanda sobre as
vastas regiões do meu mundo
e do mundo dos outros.

Quando deito a cabeça para trás
o meu corpo forte e gasto
por terNUras nocturnas
sente-se proFUNDAmente bem
e em paz.

Sinto vontade.
Não desejo.
O desejo é inimigo do espírito
que quer aLONGAr o pescoço.
Porque não é bom variar pouco?
As zebras e as girafas não (a)variam
nas savanas.

Que bom é fechar os olhos
encostar a cabeça no nada
e ouvir o silêncio...

Silêncio que amo tanto
quanto a música ou o riso

Silêncio que escorre sobre
os meus ombros
-agora-
se apodera de mim
e vai levar-me para o leito.

Virgínia Silva

sábado, 20 de março de 2010

Num Domingo de sol... ela chegou.

POESIA

Y fue a esa edad...
Llegó la poesía a buscarme.
No sé, no sé de dónde
salió, de invierno o río.
No sé cómo ni cuándo,
no, no eran voces, no eran
palabras, ni silencio,
pero desde una calle me llamaba,
desde las ramas de la noche,
de pronto entre los otros,
entre fuegos violentos
o regresando solo,
allí estaba sin rostro y me tocaba.
(...)

Pablo Neruda

Foto: Primavera em Serralves com Inah, 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

The danger of the single story

Este é um vídeo maravilhoso sobre a importância das histórias na nossa vida, a absoluta necessidade de não nos limitarmos a estereótipos, preconceitos, visões únicas e limitadas dos outros e do mundo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dulce recuerdo

Esta foto deixou-me sem ar... lembro-me muito bem daquela tarde, mas ignorava que ela se lembrava de mim. O Miguel e eu saíamos d'El Mirador no nosso pueblito mexicano, rumo a uma viagem sem fim.
Gracias, Rebecca, por este dulce recuerdo...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ser+areia=

O meu ser não é baço.
Tem um arco-íris de sangue
a correr cá dentro.

Existe com a raiva
das algas marinhas
e a ternura das estrelas
do Verão anoitecido.

O meu ser é de areia
- ou gostava de ser uma sereia -
para viver no fundo do mar
ser muito menos amante
muito mais luar.

Virgínia Silva

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna



Uma das melhores comédias brasileiras!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Dos ensaios de teatro

O simples e o genuíno são longos caminhos de volta a casa.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

INVICTUS

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Ernest Henley

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Magia

"A dor da perda é um lugar que desconhecemos até chegarmos lá." - O Ano do Pensamento Mágico

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O meu gesto Antígona para 2010

O conhecimento, a auto-consciência é a chave para modificarmos o nosso mundo interior e, qual efeito borboleta, o mundo que nos rodeia. Depois, temos é de AGIR.

Então, um homem disse-lhe:
Fala-nos do conhecimento de si. E ele respondeu:

Os vossos corações conhecem, no silêncio,
os segredos dos dias e das noites.
Mas os vossos ouvidos têm sede de ouvir finalmente
o eco do saber dos vossos corações.
Gostaríeis de saber pelo verbo
o que sempre soubeste pelo pensamento.
Gostaríeis de sentir com os dedos
o corpo nu dos vossos sonhos.

E está certo que assim o queirais.
A fonte oculta da vossa alma deve necessariamente
jorrar e correr a murmurar para o mar;
e o tesouro das vossas profundezas infinitas
revelar-se aos vossos olhos.

Mas que não haja balança
que pese o vosso tesouro desconhecido;
e não procureis explorar os abismos do vosso saber
com a vara ou com a sonda,
pois o eu é um mar sem limites e sem medida.

Não digais: «Encontrei a verdade»,
mas antes: «Encontrei uma verdade.»
Não digais: «Encontrei o caminho da alma.»
Mas antes: «Cruzei-me com a alma que seguia pelo meu caminho.»
Pois a alma percorre todos os caminhos.
A alma não caminha sobre uma linha
nem se alonga como uma vara.

A alma abre-se a si própria
como se abre um lótus de inúmeras pétalas.

Khalil Gibran