domingo, 27 de junho de 2010

Guardar as lágrimas

Todos os dias e de todas as formas eu torno-me um bocadinho melhor.

in Lembras-te de Dolly Bell, de Kusturica

sábado, 19 de junho de 2010

O meu José

Deitaram-se. Blimunda era virgem. Que idade tens, perguntou Baltazar, e Blimunda respondeu, Dezanove anos, mas já então se tornara muito mais velha. Correu algum sangue sobre a esteira. Com as pontas dos dedos médio e indicador humedecidos nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de Baltazar, sobre o coração. Estavam ambos nus. Numa rua perto ouviram vozes de desafio, bater de espadas, correrias. Depois o silêncio. Não correu mais sangue.

in Memorial do Convento, de José Saramago

Este é um dos livros da minha vida e Saramago uns dos escritores que mais amo. Amado ou odiado, foi um provocador autêntico, fiel aos seus princípios e valores. A sua escrita tem luz que se impõe por entre a verdade mais nua e dolorosa. A compaixão está aí.
O nosso país nunca será profundamente conhecido através dos seus políticos polidos de gravata, dos seus jogadores de futebol suados com gel no cabelo ou dos seus monstros turísticos no sul. Em todas as livrarias que frequentei na Europa e fora dela, Saramago estava lá, ao lado de Fernando Pessoa. E essa descoberta fazia-me sempre sorrir e sentir-me pertencente a um lugar, que poderá não ser um pedaço de terra, um rectângulo virado para o oceano, mas é com certeza uma língua e um modo de sentir e ver o mundo.
Fica aqui a minha homenagem partilhada.

Até sempre camarada!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Venadito

Frida Kahlo entró en mi el día que entré en su casa en Coyoacàn. Desde entonces respiramos el mismo aire, sentimos el mismo dolor.

Violentada e triste

Violentada e triste. Recordada
na chuva.

Perfil de Primavera
nas mãos que eu ergo acima desta ausência.

O meu sangue desperta, cria raízes no teu sangue.
Nos jardins desertos da nossa solidão.

As minhas mãos, as tuas mãos. Os corpos abraçados.
E a única cidade construída para o nosso amor.

Nua. Inquieta.
Clandestina.

A tua boca no meu peito. Os
beijos demorados. E todos os silêncios.

As ruas que eu abri no teu olhar
começam nos meus dedos.

Vem. Eu amo-te.

Joaquim Pessoa