sábado, 27 de setembro de 2008

B a r C e l o n A



Martí, meu amigo Catalão de coração, membro do Movimento Independentista da Catalunha, corria ao lado do vencedor da Corrida das festas da padroeira da cidade, Santa Mercé. Corria para chamar a atenção de um jovem do movimento que está a ser julgado, porque esteve presente numa manifestação contra o poder do governo espanhol. "Manifestar-se é um direito" (dizia em catalão o cartaz que tinha nas mãos). Vídeos deste momento e as fotografias do vencedor não saíram na televisão espanhola. Saíram notícias da festa, da corrida, mas não do vencedor a chegar à meta, simplesmente porque ao seu lado ia Martí, a chamar a atenção para algo incómodo.
É verdade que em Barcelona há várias manifestações de jovens que não estão convictos dos seus ideais, mas querem apenas encontrar algo para fazer que lhes dê uma imagem de "activista", de pessoa interessada nos direitos humanos para poderem dormir mais em paz consigo próprios. É uma tendência, uma moda também.
Mas ainda há pessoas como Martí, fortemente idealistas - embora com uma visão ampla do que os rodeia - que são cada vez mais importantes nesta sociedade paradoxal, onde a poesia e os ideais são vistos com ironia e desdém.
É pena que as pessoas em Portugal - e em geral no mundo mais capitalista - estejam a ficar tão egoístas e tenham tão pouca participação social. Na América Latina assisti a vários movimentos na rua, várias expressões de solidariedade e afecto. As pessoas são mais empenhadas socialmente, talvez porque sintam muito mais na pele as tomadas de posição políticas. Ora Portugal... este país não é assim tão pobre. Nunca as pessoas viveram tão bem. Mas queremos sempre mais, queremos igualar-nos em vez de nos diferenciarmos pela nossa autenticidade. A pobreza aqui é mais de espírito. E quando o espírito é pobre...
Em Cuba foi diferente, era preferível morrer a viver sem vida. Che sabia disto quando tomou nas suas mãos a revolução. Um filme a ver "Che, o revolucionário".

domingo, 21 de setembro de 2008

No Retiro


Foi uma semana intensa em terras de Espanha e Catalunha e - sobretudo - dentro de mim!
Em Madrid! O motivo - RAFAEL!

Adorei o Parque del Retiro onde mais tarde dormimos uma siesta na relva :)

A lua também esteve cheia durante este tempo e os madrilenhos
celebraram com a Noche Blanca - uma noite de eventos culturais e artísticos por toda a cidade.
Enfim, Madrid foi essencialmente para rever o meu querido amigo que já não via há 5 anos e para estender-me ao sol no parque. Claro que o Museu del Prado também fez parte da estadia... com este quadro hilariante:

"Aparición de la Virgen a San Bernardo", de Alonso Cano

Já não tenho paciência para correr todos os pontos turísticos!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

ONZES de Setembro



"O importante não é saber quem era este homem, mas saber quem somos nós ao olharmos para esta fotografia." (Familiar de uma das vítimas de 11 de Setembro de 2001)







La patria está forjando la unidad

De norte a sur se movilizará

desde el salar ardiente y mineral

al bosque austral,

unidos en la lucha y el trabajo irán

la patria cubrirán.

Su paso ya anuncia el porvenir.

De pie cantar que el pueblo va a triunfar

millones ya imponen la verdad.

De acero son, ardiente batallón.

Sus manos van, llevando la justicia y la razón,

mujer,con fuego y con valor,

ya estás aquí junto al trabajador.


Canto chileno a 11 de Setembro de 1973, dia do golpe de estado que - com o apoio dos Estados Unidos - estabeleceu a ditadura de Pinochet no Chile.



"Al fossar de les Moreres no s'hi enterra cap traïdor, fins perdent nostres banderes serà l'urna de l'honor." (Tradução: No fosso dos mortos não se enterra nenhum traidor, mesmo perdendo as nossas bandeiras, será um fosso de honra - Disse um pai, quando queriam enterrar um dos seus filhos que tinha combatido ao lado das tropas espanholas contra a independência da Catalúnia- 11 de Setembro de 1714- dia da perda da Independência da Catalúnia).

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

"Aqui ninguém me põe a pata em cima"

Ouvi-o algumas noites no Pinguim. Vi-o raras vezes.
Uma única vez comi ao lado dele e troquei com ele algumas palavras. Foi em Abril, na festa dedicada à comemoração do 25 de Abril. Tinha ouvido já várias histórias sobre o seu carácter impulsivo e, por vezes, rude. Naquela noite, porém, um homem calado, apagado, doce na sua fragilidade, estava a comer silencioso ao meu lado. Parecia um homem tímido até. A nossa fragilidade sobressai no início da nossa vida ou no fim dela.
Quando o ouvi a declamar o poema Soneto Presente de Ary dos Santos, fiquei surpreendida. Era como se uma chama que pensávamos extinta se elevasse das cinzas. Causou-me uma forte impressão. Naquela noite tinha sentido a morte a rodear aquele homem ao jantar e, naquele momento, senti o quanto a vida dentro dele dizia NÃO a essa inevitabilidade.
Como o disse, não éramos amigos, mas poesia que tinha dentro de si tocou-me naquele momento.
Apesar de tudo, ele tem um ponto a seu favor - os poetas são eternos, deixam sempre as suas palavras escritas:

e há o fim
só os valores
que esperam
aprendem a
saber esperar
pelos outros
as pérolas sós
amam no fim
partem para
outro fim
chegam ao meio
com dignidade
os homens são
apenas a passagem
do vácuo ao cheiro
o único princípio
o último atalho
o primeiro refúgio
o nosso amor
sublimado

de Joaquim Castro Caldas