domingo, 25 de maio de 2008

Vamos ao teatro :)

Convido os meus amigos para irmos ao teatro do www.fitei.com
Segunda 2: Corpos Dissidentes - Nut Teatro
Terça 3: Las que faltavan - Antonia San Juan
Sexta 6: Meu Aniversário - O Dinomáquia 2 - L'Avalot
Proponho uma pequena reunião em minha casa para comermos bolo e bebermos vinho do Porto!
Domingo 8: Orestéia - O Canto do Bode - Folias d'Arte
A minha peça de eleição: O Brasil na sua verdade grega, sempre actual, trágico e sempre o humor genuíno, infantil. A América Latina torturada e silenciada. Mas uma terra que tudo perdoa e absolve. Um Orestes divino rodeado de corpos perfeitos na sua imperfeição humana. Tudo para anoitecer a noite do meu bem e terminar com o Pierrot Apaixonado embriagado pelos limites explorados da vida.
Um milagre artístico, o êxtase na alma saciada.

sábado, 17 de maio de 2008

O sapo

Vivemos de teatro. A minha amiga estagiando no Teatro Nacional de São João, eu trabalhando como professora de línguas e como guia de visitas nas Caves de Vinho do Porto, mas dedicando todo o tempo que me resta à arte de Ser. Porque para mim o teatro é a arte do Ser. Ser autêntica dentro de mim, para os outros e em outros.
Cada vez vivo mais essa arte, cada vez sinto com maior convicção que não posso viver em harmonia sem ela. Desde sempre soube disso. Desde a infância que ela me tocou quando vivi a minha primeira personagem na 1ª classe: o gato. Mas a vida afastou-me de mim mesma e fez-me acreditar que o teatro não era para mim. E eu deixei-me ser afastada de mim por medo e insegurança. Creio que esta história é muito comum - cliché até. É a história de muita gente que devido a pré conceitos de si, não se realizou. Acredito que há muitos mais actores neste mundo do que contabilistas ou engenheiros. Mas poucos são os que têm consciência de si e decidem dar o "salto". Porque todos - ou muitos - fomos crianças um dia e brincámos.
Ontem à noite, na vinda do teatro vi um sapinho no meio da rua. Um sapinho no meio da calçada sem verde ou água, longe do seu ambiente natural. Estava perdido, sozinho, mas saltava. Saltava à procura da sua vida. Se ele parasse de saltar, concerteza deixaria de viver. É preciso saltar em direcção ao nosso lago ou charco. Em direcção a nós. Quando vi aquele sapinho senti uma ternura por ele, uma vontade de pegar nele e colocá-lo numa poça de água na berma da rua. Mas - não sei bem porquê - não o fiz. Mas sabia que ele tinha um significado especial para mim, que ele era um sinal de algo que iria acontecer ou que já está a acontecer na minha vida.
De volta a casa - madrugada já - passei perto da rua onde tinha visto o sapinho, perto do TECA, e pensei nele. Pensei nele e pensei em outros sapos que se podem transformar em príncipes e pensei no sapo do meu coração. E essa realidade, esse desejo de ver esse último, tornou-se realidade concreta e passou por mim na rua. E, abracadabra! a magia voltou a surpreender-me. E ela só acontece quando damos o salto, quando acreditamos na nossa realidade interior e a vivemos com convicção. Hoje, depois do workshop de voz com a Céu - uma actriz maravilhosa, um céu cheio de estrelas inesperadas - eu sinto que vivo cada vez mais a minha realidade interior, em qualquer lugar que esteja ou função que desempenhe. E essa realidade age sobre o quotidiano, transformando-o. Como o girino se transforma em sapo e como o sapo se transforma em príncipe... ou em algo mais interessante até, pois já não estamos em tempo de monarquia.
Saltem sapinhos!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Adeus do coração

A razão pela qual salvei crianças do gueto de Varsóvia tem a ver com a minha infância. Fui educada a reagir, a considerar que uma pessoa que se está a afogar tem de ser salva, independentemente da sua nacionalidade ou religião.
É uma exigência ditada pelo coração.


Irena Sendler (1910-2008)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A Canção

Existe uma tribo na África oriental onde a arte da verdadeira intimidade é fomentada mesmo antes do nascimento. Nessa tribo, o aniversário de uma criança não é contado a partir do dia do seu nascimento físico, nem a partir do dia da sua concepção, como em outras culturas primitivas. Para essa tribo, a data do nascimento é contada a partir da primeira vez em que a criança é um pensamento na mente da mãe. Consciente da intenção de ter um filho com determinado homem, a mãe sai de casa e se senta sozinha debaixo de uma árvore. Fica sentada, atenta, até ouvir a canção do filho que ela espera conceber. Quando ouve a canção, volta para o povoado e a ensina para o pai, para que possam cantar juntos e então fazem amor, convidando a criança a se juntar a eles. Depois que a criança é concebida, ela canta para o bebê no seu ventre. Depois ensina a canção para as velhas e parteiras da tribo, para que através do trabalho de parto e do milagroso momento do nascimento a criança seja recebida com essa canção. Depois do nascimento todos os habitantes da tribo aprendem a canção do novo membro da comunidade e a cantam para a criança quando ela cai ou se machuca. A canção é cantada nos momentos de triunfo, ou nos rituais e iniciações. Essa canção torna-se parte da cerimônia do casamento quando a criança cresce e, no fim da sua vida, seus entes queridos reúnem-se em volta do seu leito de morte para cantar a canção pela última vez.

Amor e Sobrevivência, a Intimidade que Cura, de Dean Ornish

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Feios adormecidos


"Foi um horror" - diz a mulher ao jornalista. As trompas foram-lhe arrancadas contra a sua vontade, sem anestesia, porque não tinha dinheiro para pagar as suas dívidas. Assim, pagou com a sua fertilidade. Deixou de ser mulher e ser humano naquele momento.
"Algemavam-nos com algemas de ferro serrado, que cortava os pulsos, penduravam-nos pelos pés e espacanvam-nos" - chora o monge que continua a seguir a atitude pacifista de Sua Santidade.
Ontem, sentada confortavelmente em casa, assitia ao documentário no Canal 2 sobre o Tibete. E recordava com tristeza e indignação os argumentos de algumas pessoas que abordei na rua no Domingo passado, quando tentava apelar num jardim de Matosinhos, para assinarem contra a violação dos Direitos Humanos pela China:
"Eu sei menina, mas isso não me interessa" - dizia uma alma alienada.
"Ai, eu sou a favor da pena de morte. Aqui devia existir também!" - outra alma penada.
"Oh, isso é assunto deles. Eu preocupo-me com o meu país." - mais uma alma adormecida.
Que dizer destes argumentos estúpidos - porque não consigo encontrar outra palavra para tanta estupidez, tanta inconsciência, tanto egoísmo - que dizer deste país onde as pessoas continuam a viver só o seu mundo, a sua "vidinha" reduzida e limitada?
Claro, aqui também há muitos problemas. Mas o que interessa se é aqui ou no Tibete? SOMOS TODOS SERES HUMANOS. Concerteza que não nos vêm bater à porta para nos arrancarem as trompas ou para nos prenderem porque rezamos a outro Deus... mas todos os dias nos arrancam a alma com ilusões de crédito fácil e de cremes micarulosos e nós deixamos. Todos os dias nos prendem, impedem-nos de andar pelos nosso pés, impedem-nos de pensar pela nossa cabeça, impedem-nos de sentir a dor alheia com o nosso coração. E é a inconsciência, a anestesia da alma que gera todos os grandes males deste mundo. Aqui ou no Tibete.