domingo, 30 de novembro de 2008

Tatuagem de família

As pernas ainda tremem
mesmo confortáveis
longas
sem sapatinhos de verniz

Elas guardaram a memória
daquele tempo perdido
onde os pratos voavam
e os cinzeiros tinham
rosas infantis na neve

Elas ouvem ainda
as palavras atiradas
à parede
o silêncio
naquele fumo
pleno de paixão

Por isso tremem as pernas
outrora de menina
sem sexo ou nexo

Sem agulha tatuadas
registos do nosso sangue comum. 

Virgínia Silva

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Terra na Boca - semana 1

Era uma vez um rei...
Era uma vez uma rainha...
Era uma vez um rei e uma rainha que queriam ter um filho...
"Eu quero ter um filho, nem que seja um cavalo!"
Era uma vez uma velha que queria casar:
"Vistes por aí o meu noivo?"
Era uma vez uma menina enterrada por uma velha...
Era uma vez uma figueira que escondia uma menina nas suas raízes.
Ahhhuuuuuuuu!

Ontem debaixo de frio e na companhia de fantasmas, o nosso projecto de teatro começou a ganhar forma. Os contos começaram a confundir-se e a fundir-se numa teia de múltiplos significados e associações. A magia já lá está. Estou muito entusiasmada com este projecto! E o mais importante, como disse o Luciano, não é o objectivo, mas caminho até ele. Já começamos a desbravar terra.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Poesia de Quinta

A noite de poesia do Pinguim foi linda - saudei velhos fantasmas com novos encontros. Hoje alguém me lembrou de Sophia, que continua a ser uma alma que se afina com a minha:

ReGreSSaRei

Eu regressarei ao poema como a pátria a casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão sob mil luzes acesas

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A noite não é MESMO igual para todos

O meu pai daria lágrimas por Obama também :)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A noite não é igual para todos

Semi-deitada nesta cama que não é minha, envolvida pela voz de Tori Amos, a voz quente e nostálgica desta mulher do sul, tento escrever alguma coisa sobre nada ou sobre tudo.
Sem pudores, pois já quase ninguém que conheço lê este blog, posso escrever sobre tudo.
Tenho as costas partidas de tanto entusiasmo na dança africana. De tanto expressar o indizível, de tanto abanar a anca apelando à magia do universo que está um pouco parada pelos meus lados.
Sinto que a noite não é igual para todos, que os lugares comuns já não me maçam, às vezes são mesmo necessários para nos sentirmos parte de algo.
Antes de acordar quase sem movimentos, antes de ter de ir nas quatro patas ancestrais à casa de banho de noite, vi um médico na televisão a falar sobre a morte. Foi no Domingo, dia dos mortos, dia daqueles que partiram para outra dimensão. Esse médico dizia que cada cadáver que abria era um acto sagrado, de imenso respeito por esse corpo que horas antes havia vivido tal como qualquer um de nós. Isto emocionou-me tremendamente e desejei que tivesse sido alguém com esse sentimento que tivesse realizado esse acto sagrado no corpo amado do meu pai. A morte traz-me sempre à memória a experiência mais profunda da minha vida. A ausência do meu pai, um homem que sonhou demasiado e, de facto, realizou muito pouco. Um homem feito de ternura e de fragilidade, de revolta e indignação. De um ateu profundamente religioso e humano. De cartas de receber e de perder. De filmes italianos e de canções dos anos 60. De lágrimas por Nelson Mandela e por Rosa Mota. De livros sobre o Holocauto. Do "Crime do Padre Amaro" lido com a capa d'"Os Lusíadas". E de muitas histórias de encantar e de escurecer que iluminaram a minha infância e determinaram a minha vida.
Esse médico disse também que vivemos num mundo de perpétua novidade e absorção. Que está mais interessado em rever, reler, voltar a lugares. Que a ânsia da novidade nos está a deixar infelizes. Talvez ele tenha razão - disse para mim.
E agora é melhor parar, ou amanhã não me levanto com dores nas costas. Porque há dores que ainda não se curam com Reumon gel.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ciclo de Cinema Discriminação&NãoViolência














O grupo da Amnistia e o grupo do Movimento Humanista do Porto organizaram um ciclo de cinema inserido na campanha DISCRIMINAÇÃO E NÃO À VIOLÊNCIA.
Este decorrerá em vários lugares do Porto como a Rota do Chá (Artes em partes), Clube Literário do Porto, Maria vai com as Outras, Gato Vadio.

Espero que apareçam - começa na próxima Quinta - para ver os filmes e "cavaquear" sobre eles depois. Cliquem no cartaz para ver a programação!