Como o Mestre, que para mim sempre foi Pessoa no seu drama mais profundo, tenho grande dificuldade de dizer o que sinto intensamente por palavras. É tão mais fácil com o olhar, com a pulsação cá dentro, com os girassóis. A grande questão é que poucos se recordam dessa linguagem ancestral, do silêncio que diz.
Voltei a escrever
em guardanapos
em papel fino e delicado
para uso dos lábios
universo do nosso vício
Voltei a olhar para o
tecto, a barreira ilusória de um
céu há muito desacreditado
Volto a poetisar
agora sem grandes
metáforas, a minha
figura mais longe
de qualquer mundo
Música
Poesia
Corpos...
já não sei fazer uso das
palavras como dantes
Agora faço poesia
com os silêncios
sentados à mesa
de um café de
turistas.
Virgínia Silva
(Café da Brasileira, Lisboa 2005)