sábado, 10 de janeiro de 2009

Em construção

Estou numa casa em construção. Com temperaturas negativas e calor humano positivo. Uma casa que um dia será magnífica, graças ao idealismo em acção de dois homens que, apesar de não darem elogios, valem muito a pena.
Há pessoas que são monumentos antigos em ruínas, com fachadas desoladas e interiores tristes e sombrios. No entanto, se lhes dermos um momento da nossa atenção, podemos imaginar como seriam essas pessoas se, tal como as casas abandonadas, pudessem ser restauradas e os seus alicerces fortes e belos pormenores pudessem ser vistos. Conheço alguém assim, que é belo e gentil na sua essência, mas que precisa de se reconstruir. Talvez precise de ser amado para ter essa motivação. Ou talvez precise de amar e deixar-se amar para passar a prova de fogo. Poucos se lançam no abismo do amor... esse desconhecido, que tem de continuar a ser desconhecido e incerto, que tem de permanecer um risco, um mistério. Senão continuamos na nossa toca, sem conflito, sem nos movermos, no silêncio da nossa voz, a única permitida. O amor é o motor castrado do mundo. O verdadeiro movimento interior que transforma tudo.
Ontem, na aula de dança africana da Eva - essa força da natureza - a energia do amor estava no auge. A todos ela contagiou com a sua alegria e sensualidade. E eu dancei, dancei, cantei e celebrei o melhor de mim com todo o meu corpo em vibração. Foi um orgasmo libertador de todo o meu ser. Algo difícil de exprimir por palavras, algo que os tambores guardam.

À Eva, aos monumentos em ruínas e aos idealistas em acção, que na sua essência estão mais próximos e afinados do que aquilo que - à primeira vista - podemos ver...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Desejo primeiro que ames...

Alguém, que conheço de Alma, enviou-me este belo poema de Victor Hugo, no qual revejo os meus desejos para todos e para mim:

Desejo primeiro que ames,
e que amando, também sejas amado.
E que se não fores, sejas breve a esquecer
e que esquecendo, não guardes mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,
mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenhas amigos,
que mesmo maus e inconsequentes,
sejam corajosos e fiéis,
e que pelo menos num deles
possas confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
desejo ainda que tenhas inimigos.
nem muitos, nem poucos,
mas na medida exacta para que, algumas vezes,
te interpeles a respeito
das tuas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que não te sintas demasiado seguro.
Desejo depois que sejas útil,
mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para te manteres em pé.
Desejo ainda que sejas tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância,
sirvas de exemplo aos outros.
Desejo que tu, sendo jovem,
não amadureças depressa demais,
e que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer
e que sendo velho, não te dediques ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que sejas triste,
não o ano inteiro, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubras
que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que descubras,
com o máximo de urgência,
acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à tua volta.
Desejo ainda que afagues um gato,
alimentes um cuco e ouças o João-de-barro
erguer triunfante o seu canto matinal
porque, assim, te sentirá bem por nada.
Desejo também que plantes uma semente,
por mais minúscula que seja,
e acompanhes o seu crescimento,
para que saibas de quantas
muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que tenhas dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
coloques um pouco dele
à tua frente e digas `Isso é meu´,
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos teus afectos morra,
por ele e por ti,
mas que se morrer, possas chorar
sem te lamentares e sofrer sem te culpares.
Desejo por fim que tu, sendo homem,
tenhas uma boa mulher,
e que sendo mulher,
tenhas um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
não tenho mais nada para te desejar.