quarta-feira, 24 de julho de 2013

A verdade na educação

Como é que se ensina as crianças a portarem-se bem? (Como deve ser, obviamente). Assim de repente poderá parecer que há apenas uma resposta: ensinar pelo exemplo. Mas quem já discutiu o tema sabe que este argumento é a última linha de defesa. A força do exemplo parece ser considerada uma técnica menor na estratégia da guerra quotidiana. É a resposta de um santo, não a de um pai cansado que não sabe o que fazer ou a de um professor. A meio de uma discussão interminável, de certeza que alguém nos diz que os santos não tinham filhos e que Jesus, que disse: "Deixai vir a mim as criancinhas, pois deles é o Reino do Céu", talvez tivesse dito outra coisa se soubesse o que são os chamados problemas domésticos. Por outras palavras, Jesus não sabia peva do que estava a dizer.
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- Podemos gritar, ameaçar e castigar- observa ele - mas a verdade é que somos todos únicos, temos uma maneira de ser própria. Não vale a pena dizer "Não faças isto" ou "Não faças aquilo"; é melhor descobrirmos o que o leva a fazer isto e não aquilo. Não podemos forçar as pessoas, especialmente os pequenotes. Só podemos guiá-los. E isso é uma arte!
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Tento transmitir-lhes a ideia de que a ignorância não é pecado. Sugiro até, cuidadosamente, claro, que há perguntas às quais ninguém sabe responder, nem sequer a mamã e Harrydick. Espero desta forma prepará-los para a revelação que certamente terão um dia, de que adquirir conhecimento é como morder um queijo que se torna maior a cada dentada que se dá. Espero também incutir-lhes a ideia que é melhor respondermos nós mesmos a uma pergunta do que pedir a alguém que nos dê a resposta. Mesmo que a nossa resposta esteja errada! Só nos concursos se obtêm as respostas "certas"... mas para que servem?
O abismo entre o conhecimento e a verdade é infinito. Os pais falam muito da verdade, mas raramente se dão ao trabalho de lidar com ela.

in O Big Sur e as Laranjas de Jerónimo Bosch, de Henry Miller