sábado, 17 de maio de 2008

O sapo

Vivemos de teatro. A minha amiga estagiando no Teatro Nacional de São João, eu trabalhando como professora de línguas e como guia de visitas nas Caves de Vinho do Porto, mas dedicando todo o tempo que me resta à arte de Ser. Porque para mim o teatro é a arte do Ser. Ser autêntica dentro de mim, para os outros e em outros.
Cada vez vivo mais essa arte, cada vez sinto com maior convicção que não posso viver em harmonia sem ela. Desde sempre soube disso. Desde a infância que ela me tocou quando vivi a minha primeira personagem na 1ª classe: o gato. Mas a vida afastou-me de mim mesma e fez-me acreditar que o teatro não era para mim. E eu deixei-me ser afastada de mim por medo e insegurança. Creio que esta história é muito comum - cliché até. É a história de muita gente que devido a pré conceitos de si, não se realizou. Acredito que há muitos mais actores neste mundo do que contabilistas ou engenheiros. Mas poucos são os que têm consciência de si e decidem dar o "salto". Porque todos - ou muitos - fomos crianças um dia e brincámos.
Ontem à noite, na vinda do teatro vi um sapinho no meio da rua. Um sapinho no meio da calçada sem verde ou água, longe do seu ambiente natural. Estava perdido, sozinho, mas saltava. Saltava à procura da sua vida. Se ele parasse de saltar, concerteza deixaria de viver. É preciso saltar em direcção ao nosso lago ou charco. Em direcção a nós. Quando vi aquele sapinho senti uma ternura por ele, uma vontade de pegar nele e colocá-lo numa poça de água na berma da rua. Mas - não sei bem porquê - não o fiz. Mas sabia que ele tinha um significado especial para mim, que ele era um sinal de algo que iria acontecer ou que já está a acontecer na minha vida.
De volta a casa - madrugada já - passei perto da rua onde tinha visto o sapinho, perto do TECA, e pensei nele. Pensei nele e pensei em outros sapos que se podem transformar em príncipes e pensei no sapo do meu coração. E essa realidade, esse desejo de ver esse último, tornou-se realidade concreta e passou por mim na rua. E, abracadabra! a magia voltou a surpreender-me. E ela só acontece quando damos o salto, quando acreditamos na nossa realidade interior e a vivemos com convicção. Hoje, depois do workshop de voz com a Céu - uma actriz maravilhosa, um céu cheio de estrelas inesperadas - eu sinto que vivo cada vez mais a minha realidade interior, em qualquer lugar que esteja ou função que desempenhe. E essa realidade age sobre o quotidiano, transformando-o. Como o girino se transforma em sapo e como o sapo se transforma em príncipe... ou em algo mais interessante até, pois já não estamos em tempo de monarquia.
Saltem sapinhos!

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