quarta-feira, 7 de maio de 2008

Feios adormecidos


"Foi um horror" - diz a mulher ao jornalista. As trompas foram-lhe arrancadas contra a sua vontade, sem anestesia, porque não tinha dinheiro para pagar as suas dívidas. Assim, pagou com a sua fertilidade. Deixou de ser mulher e ser humano naquele momento.
"Algemavam-nos com algemas de ferro serrado, que cortava os pulsos, penduravam-nos pelos pés e espacanvam-nos" - chora o monge que continua a seguir a atitude pacifista de Sua Santidade.
Ontem, sentada confortavelmente em casa, assitia ao documentário no Canal 2 sobre o Tibete. E recordava com tristeza e indignação os argumentos de algumas pessoas que abordei na rua no Domingo passado, quando tentava apelar num jardim de Matosinhos, para assinarem contra a violação dos Direitos Humanos pela China:
"Eu sei menina, mas isso não me interessa" - dizia uma alma alienada.
"Ai, eu sou a favor da pena de morte. Aqui devia existir também!" - outra alma penada.
"Oh, isso é assunto deles. Eu preocupo-me com o meu país." - mais uma alma adormecida.
Que dizer destes argumentos estúpidos - porque não consigo encontrar outra palavra para tanta estupidez, tanta inconsciência, tanto egoísmo - que dizer deste país onde as pessoas continuam a viver só o seu mundo, a sua "vidinha" reduzida e limitada?
Claro, aqui também há muitos problemas. Mas o que interessa se é aqui ou no Tibete? SOMOS TODOS SERES HUMANOS. Concerteza que não nos vêm bater à porta para nos arrancarem as trompas ou para nos prenderem porque rezamos a outro Deus... mas todos os dias nos arrancam a alma com ilusões de crédito fácil e de cremes micarulosos e nós deixamos. Todos os dias nos prendem, impedem-nos de andar pelos nosso pés, impedem-nos de pensar pela nossa cabeça, impedem-nos de sentir a dor alheia com o nosso coração. E é a inconsciência, a anestesia da alma que gera todos os grandes males deste mundo. Aqui ou no Tibete.

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