segunda-feira, 27 de julho de 2009

VII Noite da Chalupa

No nosso jantar de despedida, domingo à noite, surgiu a certa altura uma questão: Se nos fosse dada a oportunidade de voltarmos a viver as nossas vidas - tal e qual como as tínhamos vivido, sem a menor diferença - que faríamos nós? Aceitá-la-íamos?
Jean disse que sim. Eu disse que não.
Olhámos uma para a outra.
"O que é que isso significa?", perguntou ela.
"Tem de significar alguma coisa?", retorqui.
"Acho que sim", disse ela.
"Significa que tu gostaste da vida que viveste."
"Talvez", disse ela. "E talvez tu não dês o devido valor à vida que tiveste."
"Talvez..."
Mais tarde, erguemos as nossas taças de champanhe e brindámos ao mundo. Brindámos à nossa reunião e concluímos que fora uma bela ideia. Depois, despedimo-nos sem ilusões de nos voltarmos a ver. E com amor.

Viagens de GreyHound, in Pensei que o meu pai era Deus,
antologia de histórias organizada por Paul Auster

Ontem foi a noite de poesia dos Amigos. Esta história é especial para mim. É sobre a amizade de duas mulheres que se conhecem num autocarro, numa viagem de longa distância, algures nos Estados Unidos dos anos 30. Escrevem-se durante todas as suas vidas e só se voltam a encontrar quando são octogenárias. Também eu falei pela primeira vez com a minha amiga Ana num autocarro e posteriormente voltámos a encontrar-nos num avião. Espero voltar a reencontrá-la durante as nossas vidas. Este livro foi um presente dela. A ela dedico esta história.

Sem comentários: