quinta-feira, 2 de abril de 2009

O essencial

Já dizia Exupery que o essencial é invisível aos olhos.
Ser-se giro ou talentoso, ver todas as peças de teatro, ir a todos os eventos sociais, ler e discutir sobre arte... É importante, interessante, conveniente, torna a vida mais fácil e atractiva, mais ampla, mas não é essencial. Vivemos à volta da rotunda - por sinal muito apreciada no nosso pequeno país - distraídos com tudo e com nada. Queremos iludir o nosso querer, preencher o nosso desejo inconstante...
Uma vez, em Paraty, Brasil, estava numa praia deserta e lindíssima com águas muito brilhantes e a mata atlântica em redor. Decidi ir nadar sozinha, mesmo tendo sido avisada que ali era um local de correntes.
Despi-me e, quando estava já refrescada e em estado de puro êxtase e comunhão com a natureza... fui puxada para dentro de água. Precebi que era uma corrente, pois a sua força era muito maior que as minhas tentativas de nadar para a costa. Após um breve momento de pânico, seguiu-se um momento de quase calmaria e por momentos (talvez uns 10 segundos), debaixo daquele fundo do mar iluminado, pensei que iria morrer ali. Decidi acompanhar o movimento das águas. Ao mesmo tempo que o meu corpo cedia, a minha vida passava dentro de mim como um filme. Lembrei-me das pessoas que mais amava - talvez voltasse a ver o pai numa outra existência, imaginei a minha mãe a receber a notícia em Portugal e lembrei-me dos cúmplices, os meus queridos amigos e amores e todos os momentos maravilhosos que me proporcionaram.
Não morri naquela praia em Paraty, pois, suavemente, a corrente foi-se embora e eu nadei freneticamente para a praia. Mas aí tive a certeza do que era essencial e de como quero passar todos os momentos desta vida. E assim, abraço as palavras de Thoreaux:

I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived.

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