sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal e Nostalgia


Passou o Natal. Passaram os dias de abundância, superficialidade e consumismo desenfreado. Não podemos estar verdadeiramente felizes se precisamos de tanto para viver. Não podemos estar a desenvolver o nosso lado mais nobre. Só prendas, só sucesso, só "subir na vida" através de carros novos, roupas novas, perfumes novos, paixões novas... o estilo americanizado e burguês.
As prendas que recebi e as comidas que comi só me trouxeram um prazer passageiro, como aquele que se tem com alguém que não se ama.
O grande momento deste Natal, para surpresa minha, foi jogar à sueca com o meu tio Jorge. Esse tio trouxe-me de volta a mesa da casa dos meus avós em Oliveira, onde, na noite de Natal, ouvíamos os nós das mãos a baterem agilmente sobre a madeira, a cada triunfo da jogada. Aquela casa ampla, simples, cheia de sol e videiras, com soalho que fazia abanar as louças da cristaleira à nossa passagem, com colchões de palha e cobertores pesados, mas que deixavam entrar o frio a cada movimento na cama.
Aquelas férias de verão na aldeia são inesquecíveis. Sinto-me feliz por ainda ter feito parte de um tempo onde as crianças podiam brincar livremente pelos campos atrás de borboletas e nadar em tanques de água esverdeada com girinos e sapos. Uma época em que não se obrigava as crianças a tomar banho todos os dias nem se usava amaciadores para o cabelo. Isso hoje seria chamado de "negligência ou falta de higiene". O meu avô chamava-lhe simplesmente "coisas de gente da cidade" ou "poupança de água."
Hoje uso cremes bem cheirosos, mudo mais vezes de roupa e já não corro nua pelos campos... Mas sinto falta de uma vida mais natural, mais ligada à terra, ao mar e às estrelas. Em criança todos os dias olhava as estrelas antes de dormir, da varanda do meu quarto. E esse ser essencial, hoje talvez chamado por uns de "selvagem", por outros de "hippie", continua a pulsar dentro de mim, continua a expressar-se nas férias, nas viagens todo o terreno que faço. Tenho saudades das cascatas brasileiras, dos andes equatorianos, do deserto mexicano. Mas as saudades mais antigas, as que estão por baixo da pele, no sangue, são as daquele tempo mágico. Porque o meu ser não vai de férias, existe desde sempre.

Sem comentários: