quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Au-delà de

 Para lá do óbvio

Para lá da pele

Dos órgãos

Das artérias

Do sangue

Das unhas

Dentes

Ossos


Para lá dos fragmentos

Que somos

Há um filamento

Que sustém

A nossa escassa

existência


1 de Março de 2021

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Immortality

Há seres que transcendem as leis da natureza. Após duas semanas, é possível escrever sobre a morte sem a sua presença, pois esta já se foi, levando consigo um corpo em cinzas, falível, mortal como todos nós. No entanto, a sua foice não é suficientemente afiada para levar a arte consigo, pois esta permanecerá no mundo imortal, o mundo das ideias, da realização dos sonhos. David Bowie não era um ídolo único na minha adolescência. Era um, entre outros, que me ficou dessa época vibrante, que fui descobrindo melhor com a maturidade do meu gosto musical. Não é um ídolo que vejo partir, é o símbolo de alguém que soube de si tirar o melhor, uma estrela em mutação constante, tal como a vida.
Obrigada David Bowie, pelo teu legado.

domingo, 14 de setembro de 2014

Nem luxo, nem lixo

Cada vez sinto mais que a minha cidade natal se transfigurou. As noites do Porto estão inundadas de turistas, Erasmus e sobretudo... pessoas "bem". Estas já não se encontram apenas em Serralves ou na Casa da Música. Agora é de bom tom levar a família à feira do livro, aos novos restaurantes e a ver as bandas. A cultura é cada vez mais um bem consumível e descartável, como qualquer outro, daí a minha ambivalência. Por um lado gosto da vida nova que a "ciudad fantasma" (como a designou há anos uma amiga minha mexicana) adquiriu; por outro gostaria que entre os novos espíritos noturnos houvesse mais gente comum, que tanto vive na cidade da moda como na cinzenta. Gostaria de sentir algo mais autêntico no ar, menos tribos isoladas. Nem tão luxo, nem tão lixo...

domingo, 23 de março de 2014

Sommarlek


O filme não me sai da cabeça. Há muito que um filme não me saía da cabeça... deve ser a diferença entre um filme que se vê e o filme que nos vê. Foi o que aconteceu com "Um verão de amor" de Ingmar Bergman, que se tornou, da noite para um novo dia, um dos filmes da minha vida. Uma história bela, com personagens graciosos, desde a bailarina imaculada, à mulher de negro do bosque. A história, muito comum e simples - dois jovens que descobrem o amor num verão - transforma-se numa viagem à nostalgia e ao interior da dor, do silêncio imenso que nos envolve, da morte que nos acompanha.
Como em muitos filmes de Bergman, o esplendor da felicidade só atinge a sua beleza máxima quando o trágico acontece. A tristeza emerge dessas águas de amor dourado, aparentemente calmas, e ouve-se o grito premonitório da coruja. Foi este grito familiar que ressoou nas minhas memórias, transportando-me à época em que (sobre)vivia aos sorrisos do mundo que continuava, ainda que parado em mim.
Tal como a bailarina - tal como demasiados nós -  pomos a maquilhagem e entramos em cena. Agimos por um instinto qualquer de preservação da alma, acreditando que "o espectáculo tem de continuar", optando por dormir com as pestanas postiças.
Até que uma noite, na solidão fantasmagórica do teatro, alguém nos surge do outro lado da imagem:"Só quando nos libertamos de todos os muros podemos ver-nos ao espelho."


quinta-feira, 6 de março de 2014

Um poeta

Os poetas, do meu coração, ou os do meu (des)interesse, devem ser sempre louvados. Um mundo sem poetas é um mundo hostil e vazio, onde existimos sem viver.


DEDICATORIA

Más allá de donde
aún se esconde la vida, queda
un reino, queda cultivar
como un rey su agonía,
hacer florecer como un reino
la sucia flor de la agonía:
yo que todo lo prostituí, aún puedo
prostituir mi muerte y hacer

de mi cadáver el último poema.


Leopoldo María Panero (16/6/1948 - 5/3/2014)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Arigato Ozu


Um tempo que pára nestes quadros cheios de delicadeza e singeleza. Uma viagem à nossa história comum, a família, e ao interior de nós próprios, a solidão.
Um gosto intenso, inebriante, que perdura...

até ao abismo da nossa verdade inevitável.

Vale muito a pena viver e saborear: Viagem a Tóquio & O Gosto do Saké